terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

CARNAVAL

 
Desde pequenos que eu e o meu irmão nos habituamos a mascarar. A minha mãe gostava muito de comprar máscaras ou de as projetar para as levar à modista e fazer de nós os mais giros do Carnaval no colégio. Um dia fui de princesa. Princesa a sério (estamos a falar de há 50 anos atrás)! O meu vestido era de cetim em dois tons de rosa, com aqueles arcos de metal no saiote a fazer volume, uma tiara e uns sapatos vermelhos - os sapatos eram os menos adequados mas, com um fato assim, que importância tinham uns sapatos? Meu Deus, fui a mais querida e adorada desse Carnaval. Eram coleguinhas, amigas das colegas, amigas das amigas das colegas, a quererem tirar uma foto comigo. Que inchada fiquei.  Mas, mesmo que não fosse no colégio, seria num qualquer concurso de máscaras que os cinemas (Politeama e Monumental) organizavam onde ganhávamos prémios e os nossos pais orgulhosamente mostravam as nossas fotos aos amigos.
Os anos iam passando e as máscaras desapareceram. Começamos depois a mascarar os nossos filhos...Mas sempre fui uma pedante pois não me servia qualquer máscara. Alguma vez eu me mascarava sem ser a rigor? Nem aos meus filhos.
Dizem que muitos de nós nos mascaramos à imagem do que não somos (ou não conseguimos ser) nos outros dias do ano .
Se calhar esta ideia é muito rebuscada e com interpretações muito psicológicas, que nem saberia agora explicar. Lembro-me da minha comadre (madrinha da minha filha) se mascarar quase todos os anos de noiva. Perguntava-lhe porquê, pois o vestido já estava uma lástima...e ela respondia que era a sua fantasia preferida, era o desejo de algo que nunca conseguiu realizar. Outro amigo de há anos (que já faleceu), mascarava-se sempre de mulher e dizia que adorava ter nascido mulher. Na altura não o entendia... seria com certeza um transgénero.
Vou à minha festa de Carnaval.
Desejo a todos muita alegria.
 
 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

MAAT



- Então hoje o que vamos fazer?
- É verdade, interrupção letiva...
Onde levar os miúdos? Tempo chato, vento, frio, chove mas não chove, centros comerciais não...Vamos até "à outra banda".
Os miúdos estão todos margemsulenses. Em plena Lisboa, pergunto se sabem onde estão?
- Hã? - Oh mãe estamos em Lisboa, já passamos a ponte.
- Não!! Lisboa tem freguesias, sítios...
- Freguesias? Mas estás-nos a perguntar como se chama esta freguesia? Oh mãe, vá lá mãe, isso não. E pronto, não faço mais perguntas! De repente, descíamos a Maria Pia (pleno Casal Ventoso) e a Madalena disse:
- Oh mãe, a paisagem da direita é tão parecida com Castelo de Bode!
Desisti...
Chegámos a Belém e estacionamos o carro para ver o museu (por fora). Andamos quilómetros (ok serviu de passeio) porque o MAAT está a ser desconstruído!
Na ansia de inaugurarem o museu, fizeram tudo mal feito e agora estão a refazer. São dezenas de homens, de calceteiros, de gruas que, se não fosse o objetivo ir ali, tínhamos desistido pois, no passeio marítimo, paramos quatro vezes: uma para passar um carro das obras com uma sirene, outra para a tal grua e mais duas para ultrapassar obstáculos. Sabem porquê? Porque o museu está fechado entre 7 de fevereiro e 22 de março. Bem escolhido! Já que lá estávamos tiramos fotos e eu olhei para aquela fachada monumental e pensei: "Porquê? " Essa fachada está a 2 m do rio e do outro lado é o Porto Brandão e a Trafaria. Este fantástico edifício não tem nenhum impacto visual, só do ar... Não sou arquiteta, fiquei cheia de vontade de sair daquele perigo iminente e acabamos a tarde no Santini. Valeu a grande caminhada e os deliciosos gelados.
 

 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

MÃES


Ontem, em conversa com uma amiga,  ela saiu-se com esta frase: "exacerbamos o momento do parto e romantizamos a maternidade"... senti a frase tão adequada. Na verdade andamos ali a temer, a imaginar, a projetar, o momento do parto sendo o parto o verdadeiro momento da vida e que dura pouco tempo, para depois passarmos a vida no romance da maternidade. E a maternidade nem sempre é um romance. Ser mãe (com M maiúsculo) é das coisas mais difíceis da vida...e nós vamos contando os momentos bons deste romance que dura uma vida e raramente partilhamos os vários momentos maus que tem este romance com os nossos filhos. Quem realmente fala do drama da maternidade e não põe paninhos quentes na conversa é a AMÃEZÓNIA, que convido os interessados a darem uma espreitadela. https://amaezonia.com/.
Mas sobre o tema não consigo deixar de pensar na gravidez do meu segundo filho. Foi uma gravidez planeada, eu já com 41 anos,  e não é que a minha cunhada também estava grávida? Foi a cereja no topo do bolo partilharmos as experiências corporais , por assim dizer.  A minha gravidez foi de vómito, a da minha cunhada foi tranquila até aos 5 meses. A minha teria que passar por uma amniocentese, a da Analu não... Mas a verdade é que no meio de tanta agonia, de tanto vómito, a partir da ecografia morfológica tudo foi mais tranquilo para o meu lado e começou a ser menos para o da minha cunhada que acabou, também, por ter de fazer uma amniocentese sem estar à espera. Como eu já a tinha feito meses antes,  tranquilizei-a, assim como ela me tranquilizou quando a minha sobrinha nasceu forte  e saudável. E lá dei à luz o meu rapaz um mês e meio a seguir. Depois, é que foram elas: dois tormentos nas nossas vidas. Ai que miúdos tão difíceis de lidar: chorões, só estavam bem ao colo, não dormiam... deram cabo de nós. Ainda há bocado lhe dizia isso e a Analu respondeu : "deixa lá, agora são ótimos miúdos".
Lembro-me que andávamos fartas de dar de mamar (desculpem-me todas as que acham que dar de mamar é lindo) e, ao quarto mês de cansaço, de olheiras, de várias experiências ficou decidido: tirávamos todas as semanas uma mamada. E, num mês, os miúdos passaram-se a agarrar aos biberons e libertámo-nos da mama  passando  o acto para quem se oferecesse.
O dormir e o chorar por tudo e por nada foi mais difícil de gerir: a minha sobrinha chorava até se calar mas ao meu filho eu pegava ao colo. E estou arrependida pois mais rapidamente a Luisinha parou o choro, do que ele.
Depois vieram as papas e as sopas: o meu sucesso era muito pouco. Os meus dotes culinários, que são zero, foram sentidos pelo meu filho que cuspia a sopa como a engolia. A minha sobrinha só não gostava de experimentar e negava tudo, só obrigada a comia.
Um verdadeiro romance este primeiro ano de vida, mas que nos apoiamos nas desventuras uma da outra. E foram crescendo, têm feitios diferentes mas acho que mostram grande personalidade... temos o enorme desejo que continuem a ser grandes amigos pela vida fora.
Adoro-vos !

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

FRASE DA SEMANA


(IN)FELICIDADE



Muitas vezes (quase sempre) queremos um mundo ideal... Devemos estar no planeta errado porque a verdade é que vivemos na dualidade:  dia e noite, quente e frio, doce e amargo, nascimento e morte. Ou seja: eu só sei o que é felicidade e bem-estar porque também sei o que não é.
Em trinta e tal crónicas esta é a segunda em que falo de felicidade. Com certeza é algo que me preocupa...
Procuramos incessantemente este estado, tal é a "ambição" de ser feliz. A receita é simples: basta casar, ter filhos, ter um bom emprego, ter uma boa figura e viajar (além de fazer esse registo nas redes sociais). Não há lugar, nem espaço à infelicidade. Sermos "obrigados" ao bem-estar deixa-nos culpados quando não nos corre tudo bem na vida...
Procuramos constantemente estados eufóricos: os bens materiais produzem uma felicidade momentânea, episódica e entramos num processo quase obsessivo de imaginar que o consumismo é que nos deixa feliz. E, como não consumismo tanto, caímos numa ansiedade constante.  Penso que esta "ordem" de tenho que viver melhor, acaba por negar sentimentos importantes como a "angústia" e a "tristeza". A verdade é que a nossa tristeza é pouco aceitável. É como sentirmo-nos tristes seja o mesmo que não sentirmos... e, mais uma vez, as redes sociais pioram isso. Lá, todos mostramos ao mundo que estamos bem, que somos felizes e que nada nos afeta.
Parece que felicidade é uma imposição social. Assim, as pessoas sentem uma culpa por não estarem completamente felizes  e geram outra culpa quando não alcançam tal padrão, ficando doentes e ansiosas. 
Tipificando: "eu achava que era feliz até ver o instagram da Teresa"...
E assim vivemos infelizes na felicidade.





 

 
 
 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

NÉSCIO

 
 
 
Rodeamo-nos de pessoas que queremos e também de pessoas que não queremos. Acreditem que, depois dos 50, já é mais fácil tornarmo-nos "Darwinistas" e aplicarmos a seleção natural: só nos rodeamos de quem queremos. Mesmo assim, às vezes, entra no círculo o indesejado e temos que o aturar. Ultimamente o meu cerco tem estado mais permissivo e os indesejados têm entrado.  Paciência: até me rio com eles (não deles) pois, como o meu pai dizia, o maior horror da humanidade é a estupidez humana. Ser estúpido é ser pequenino, é não abrir horizontes, é não ser humilde, é procurar chamar a atenção, é não ter brilho próprio, é ser inoportuno.
Apreciem lá os sinónimos de estúpido que encontrei: aborrecido, chato, enfadonho, descomedido, exagerado, excessivo, absurdo, disparatado, alarve, imbecil, néscio, parvo... a estupidez humana é enorme.
Foge do estúpido! Não é um ato cobarde mas um ato de salvação. O estúpido mói-te a vida, transtorna-te, ocupa-te, deprime-te.
 
Só para aliviar a estupidez deixo-vos aqui uma anedota:
 
Um imigrante polaco foi fazer testes ao oftalmologista. O médico mostrou-lhe um cartaz com as seguintes letras: “C Z W I X N O S T A C Z”.
- Consegue ler estas letras ?-  pergunta o médico.
- Ler? Eu conheço o homem!!!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

ESCOLA



A Paula ligou-me há bocado, desfeita, porque acha que o filho vai chumbar outra vez. E não é só por chumbar é pela idade que tem e pela dinâmica que implementaram a um miúdo com necessidades educativas especiais. Sou professora de educação especial e sei que os pais com crianças e jovens com problemáticas várias sentem-se (na maioria) desacompanhados, sozinhos, sem saber, muitas vezes como lidar com os filhos. No caso da Paula, tem realmente sido a falta de envolvimento da escola e muitas vezes as incompatibilidades de carater, de atitude que causam entraves e que se refletem neste jovem.  Os pais não têm de saber tudo de educação especial mas têm que ser elucidados até desaparecerem eventuais dúvidas (no caso de terem um filho com essas necessidades) . Contava-me a Paula: " e a seguir? o que é que ele vai ser? bombeiro? ..." Uma pena a escola não estar a conseguir dar respostas. Também sei que muitas vezes as respostas que nós damos não é a que os pais querem ouvir apesar de haver limites.
Saindo da educação especial e falando do ensino regular, a Sofia deu-me o seu testemunho como mãe : " A experiência que tenho é que a Escola não perde uma oportunidade de “sacudir a água do capote”. O aluno porta-se mal na sala de aula? Chama-se o encarregado de educação para que falem com o educando e resolvam; O aluno tem um conflito com um colega? Chama-se o encarregado de Educação e juntamente com o aluno incentiva-se à participação do sucedido por escrito; O aluno baixa o rendimento escolar? Chama-se encarregado de Educação, pergunta-se se há alguma alteração em caso que justifique o acontecimento....mudança de casa? falecimento de avós? nascimento de irmãos?…
Não quero excluir os pais do processo educativo mas acho um abuso de princípios. As crianças e jovens passam muito tempo na Escola, é lá que é suposto serem resolvidos as questões. Ora vejamos: como pode um pai gerir questões às quais não tem acesso ou influência? Como pode um Encarregado de Educação gerir conflitos se não está presente? Gerir "o" baixar de notas se não está na sala de aula e  o mesmo se aplica ao comportamento? Cada vez menos se ouvem  os alunos: o que diz o professor é lei e os pais servem somente para o que à escola dá jeito".
 
Vamos lá escrever o que vos vai na alma.
No FIFTYLÓ podem comentar, assim como na página do facebook. Há crónicas que puxam mais para a opinião, como esta. É realmente esse o grande objetivo: opinar/comentar quer concordemos, quer não.
OBRIGADA!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

RECOMEÇOS





No meu mundo, nas pessoas que me rodeiam, nos meus amigos e conhecidos há muita gente a recomeçar. Pessoas entre os 45 e os 55 recomeçam relações com muita facilidade. "Recomeço" e "recomeçar" têm sido as palavras de ordem.
Os casamentos acabam e as pessoas recomeçam uma nova vida com outras, sempre com a justificação que já não têm tempo a perder, ou recomeçam simplesmente a aprender a viver sozinhas. Nada contra, só o facto de se recomeçar TANTO. Por exemplo, o Manuel em 2 anos já recomeçou 4 vezes!! Repito que não tenho nada contra mas, penso eu (nem sei se devo pensar), que é um exagero recomeçar tanta vez:: mudar de casa, mudar de hábitos, mudar de amigos, mudar de cheiros...
Estou a ser, com certeza, quadrada demais apesar de não me achar bota de elástico...Agora as relações são sempre de mala de viagem na mão. Estamos muito americanizados :)
A semana passada fui ao aniversário da filha de uns amigos e falavamos da Isabel. "Onde anda?", `"há tanto tempo que não a vemos?", até que alguém disse que a Isabel agora vivia com o Pedro. "O Pedro? Quem é esse?  Mas no verão ela não estava a viver com o João? "... É que agora "viver com" é tao natural como "namorar com". Conhecem-se e vão logo viver juntos porque "já não são nenhuns miúdos".. Não são mesmo, mas a verdade é que se comportam como miúdos e rodam de casa em casa como quem muda de camisa...
Realmente o que é que eu tenho a ver com isso quando o que interessa é a felicidade do momento? Não é lugar comum ( agora) dizer "um dia de cada vez intensamente"?
Mas e os filhos ? Que modelo tão moderno estamos a transmitir aos nossos filhos? Quem anda nestes recomeços tem filhos. Os filhos mudam de casa, de "tio" e de "tia" com muita leviandade. Com este modelo, que adultos virão a ser ? Se calhar é melhor acabar aqui pois já me apedrejaram mil vezes.
Não sou Santa. Já recomecei há uns anos e pensei sempre na minha filha. Sou  fã do "NAMORAR". Só me mudei depois de estar "farta" de namorar com o meu segundo marido. Conheci-o mas não fui viver com ele. Eu nem queria. Se tinha saído de uma relação só precisava de namorar, não de viver com...Adorava ter saudades dele, adorava quando me telefonava ao fim do dia, adorava quando conseguíamos ao fim de semana dormir juntos, adorava não ter obrigações com ele, adorava quando fazíamos projetos, adorava a complicação de umas férias a dois ( pois nem sempre era possível) por haver filhos.
E fico-me por aqui.
Bons recomeços.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

ÓSCARES




O meu pai fazia cinema amador. Toda a vida convivi com máquinas de filmar e com a paixão de termos a nossa vida em filmes. Lembro-me tão bem de ele  ter feito um filme comigo, tinha eu 2 anos, que se chama "Nini e a Primavera". O meu pai  orgulhava-se  e mostrava aos amigos o prémio que aquela curtíssima metragem tinha arrecadado. E eu lá estou, como protagonista do filme do prémio. Que saudades de tudo isso!
Quando começam as nomeações para os Óscares ando numa correria  a tentar ver todos os filmes nomeados. É que no dia da cerimónia anseio por dar a minha opinião e dizer "era este que escolhia" ou "nem acredito!" e ficar muito desiludida.
É claro que a minha opinião vale o que vale mas, este ano, se fosse membro da academia teria mesmo muita dificuldade em escolher.
La la Land: estava à espera de ver um Mama mia. Nem de perto nem de longe. Lá vale a música, o guarda roupa e...mais nada.
O silêncio, infelizmente nem está nomeado para melhor filme mas sim para melhor fotografia. Martin Scorsese no seu melhor, com um filme intenso e emocionalmente cativante. Factos históricos verdadeiros? Pois, há dúvidas mas vale a pena ver.
Foi com entusiasmo que fui ver Jackie. Apesar de achar que o assassinato do Kennedy já é um assunto esgotado, encontramos no filme uma Jackie insegura, desfeita de dor e que se confronta com o ser e não ser: hoje é a primeira dama com todo o conforto que isso acarreta para no dia seguinte  não ser nada, perdendo estatuto e mordomias. Uma Natalie Portman com uma atitude um pouco exagerada, vê-se que está a representar e a esforçar-se para ser parecida com a original  mas, é isso mesmo: vê-se. E numa boa atriz deve fluir.
A melhor atriz, quanto a mim, deverá ser Meryl Streep no Florence. Esta mulher continua a surpreender. O filme é bom e ela faz um papel fantástico: parabéns!
O Manchester by the sea foi uma surpresa... um filme monocórdico, com uma história banal e com um Casey Affleck brutal. O homem não deixa transparecer um único sentimento, uma única emoção: sempre a "mesma cara" perante mil adversidades. Parabéns!
O filme Lion, baseado numa história verdadeira é daqueles que nos faz chorar. A primeira parte toda passada numa Índia paupérrima, carregada de miséria.  A emoção de uma criança perdida e depois os traumas recalcados num jovem de 25 anos consequência de uma  infância terrível estão bem retratados. É um filme de "domingo à tarde" em que curiosamente a Nicole Kidman está nomeada para melhor atriz secundária,   aparecendo ao todo 15 minutos no écran ( um exagero esta nomeação, penso).
Moonlight um filme que me custou a gostar mas é intenso, diferente, faz-nos pensar no underground americano.
Dava o Óscar de melhor filme (apesar da dificuldade) a Hidden Figures (Elementos Secretos). Passa-se nos anos 60 onde ainda a descriminação sexual e racial estava muito presente e narra como três mulheres, cognitivamente brilhantes (mas negras), se impõem na NASA. Há uma frase que retive:      " Nunca aqui  houve gente de cor, não me envergonhem"... vale a pena.
Destaco Passageiros, um filme que gostei muito: fui ao engano, achei que era ficção científica, mas só o é por ser passado numa nave. É sobre solidão, e a  verdade é que o homem é um ser social que dificilmente é feliz só. Também o filme Aliados mereceu a minha atenção pelo desempenho de Marion Cotillard (contracena com Brad Pitt) e a quem "tiro o chapéu" pela intensidade de sentimentos e emoções que nos transmite.
Ainda me falta  ver mais filmes...
Ansiando a noite dos Óscares.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

SANDRA





Há amizades que duram vidas. Conheço esta miúda desde os 12 anos. É tão importante na minha vida que "a coloquei" no meu livro, sem filtros.
 
" (...) Telefonei à Sandra: precisava falar sobre esta psicóloga. Fomos ao Colombo ao fim da tarde. Em cada loja que entrava comprava qualquer coisa: que paciência!! Mas ia-me ouvindo entre “o que achas deste conjunto para as botas castanhas?” e “esta mala é uma tara, apesar de cara. Tenho que pedir um aumento à Raquel”.
– Mas se fores à psicóloga ela cura-te essa angústia matinal? – perguntou enquanto colocava centenas de pulseiras nos pulsos.
– Não é só angústia matinal – estive quase a confessar- me, – é tudo. É a Luz, a Raquel, o desassossego em mim.
– Falta de sexo. Há quanto tempo não tens namorado? – perguntou enquanto enfiava um vestido todo florido.
 – Não quero namorados. Onde os encaixava no meu dia? – Desculpei-me atabalhoadamente. – Oh Alice, namorar pode ser bom. Podes encontrar o “tal” e descontrair. Tu andas tensa. Vamos sair hoje? Não há nada que um vodka não cure – e puxou-me para entrar na vigésima sétima loja – já compraste alguma coisa? – perguntou enquanto mexia nas sandálias perto do manequim.
– Não me estás a levar a sério. Vamos beber um café. Estou farta de tanta roupa – desabafei.
 – Farta de roupa? Pois, tens mesmo de ir à psicóloga – gozou.
 – A sério. A quem contarei estas coisas? As minhas angústias, os meus medos, as minhas inseguranças? – quase gritei. A Sandra agarrou-me no pulso, tropeçou nos dez sacos que levava, sabe Deus como, e arrastou-me até uma esplanada.
– Oh mulher, mas o que é que se passa? – interrogou com aqueles olhos azuis muito abertos
 – Acordaste? – perguntei. – Não é isso. Não estava a entender que era “grave” – choramingou.
 – Também não precisas chorar – conclui chamando o empregado.
 – Mas que merda de angústia é essa? Andas a tomar alguma substancia ilícita? Olha que quem se mete nessas coisas, não sai de lá mais. A amiga do Frederico, sabes? Aquela muito gira que usa sempre calças justas… Abanei a cabeça. Sabia que estava no bom caminho. Finalmente a Sandra estava a ouvir-me mas primeiro precisava de se ouvir a ela.
– Okay! Deves mesmo tratar-te. Como se chama a psicóloga? Não, não a conheço…mas parece que a Bela, aquela minha amiga de Carcavelos, sabes? A que andou com o tio do Carlos? Sabes sim… ela até é um bocado foleira…
 – Stop!!!! – gritei.
 – Ai!!! Então? – perguntou enquanto dava uma dentada numa bola de berlim – eu não devia comer isto. – Eu não estou bem – confessei. – Mas fizeste exames, análises? Desculpa lá amiga mas não contes comigo para te acompanhar. Sabes o pânico que tenho de agulhas. A Dora andava mal e era cancro – agarrou-me na mão. – Mas tu não tens nada. Amiga, conta- -me tudo – e terminou a bola de berlim. – Tu cansas-me. Para. Só preciso do teu apoio. Vou marcar uma consulta e depois tenho-te a ti para o “desabafo”. Para me dares também a tua opinião. Para trilhares caminhos comigo. – Amiga, já os trilho há muito tempo. Também tenho essas angústias, essas inseguranças mas vingo-me nisto. Adoro roupa, adoro andar na moda, adoro bolas de berlim e Cérelac – sorriu. – Vamos para tua casa e no caminho. (...)" in "A ALICE MORA AQUI

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

QUICHE

Quem me conhece deve estar a perguntar se a palavra "quiche" está subentendida, mas NÃO: é mesmo a quiche de comer. É que eu odeio cozinha. Existirem cozinhas nas nossas casas  só servem  para ocupar mesmo. Mas, mesmo sem gostar, todos os dias faço pelo menos uma refeição. O pessoal cá de casa não me perdoa.
A Xana e o Carlos têm uma quinta para os lados de Santarém e nós adoramos lá ir . Eles acolhem-nos sempre com tanto carinho que é um prazer passar lá uns dias. A Xana é muito despachada: tanto dá almoço a quatro como a catorze. E faz magia, tipo Rainha Santa Isabel em o Milagre das Rosas. A Xana, de um pedaço de carne faz 3 ou 4 pratos.
Eu esforço-me e sou muito atenta aos seus dotes... Sempre que quero brilhar, lembro-me de uma qualquer receita elaborada pela Xana (é que aponto todas), e esta da quiche tem requinte apesar de ser quiche. Deixo-vos aqui o meu humilde contributo (a Xana faz a massa e o bechamel;  eu tanto a massa como o bechamel são de compra).
 
Ingredientes:
1 pacote de massa quebrada;
2 farinheiras;
1 molho de espargos verdes frescos;
1 pacote de bechamel (dos maiores).
 
Preparação:
Colocar a massa na tarteira e levar ao forno (deve estar picada no fundo) 10m, 200 º.
Cozer as farinheiras e desfazê-las para uma taça. Dar um entalão nos espargos, quer isto dizer deixá-los ferver em água 5m.
Basicamente só falta tirar a tarteira com a massa do forno (deve estar dourada), colocar  a farinheira desfeita a forrar o fundo e os espargos "entalados" e escorridos (sem os cortarem) por cima. Termina com o bechamel e vai mais um pouco ao forno.
 
Fica top!
Para a próxima levo uma feita, sim Xana?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

VALENTIM





Era uma vez um bispo que se chamava Valentim. Valentim  desafiava constantemente o seu imperador. E como?  Casando os soldados em segredo. É que este Imperador não deixava os combatentes casarem pois achava que os solteiros eram melhores durante as guerras. Sabendo que o bispo Valentim lhe desobedecia condenou-o à morte. Durante o tempo no carcel recebeu flores e bilhetes de jovens que ainda acreditavam no amor.
E tu acreditas no Amor ? 
 Eu acredito. Todos gostamos de amar e ser amados. Não falo do amor parental,  mas sim do amor carnal que leva ou que nos sustenta numa relação.
Tenho amigas que se escusam a este sentimento fugindo do cupido    e   outras que viveriam portas meias  com o anjo  esperando ansiosamente serem atingidas pela sua seta. Anjo para uns demónio para outros mas a verdade é que o AMOR é algo que sabe tão bem e reconforta.
Confundimos amor com paixão. O amor prolonga-se, a paixão esvai-se.
Ao longo dos meus 50 e tal anos com certeza já tive muitas paixões mas poucos amores...é assim que eu vejo este sentimento.  Quando tinha 18 anos quase que morria de amor. Mais tarde vivia para ter um amor e agora vivo tranquilamente com o meu amor. Não estou com isto a dizer que a intensidade do sentimento diminui com a idade mas sim que se matura, que se racionaliza  com os anos. Um amor aos 50 pode ser tão louco como um amor aos 20 só que aos 50 já o racionalizamos por termos tido experiências anteriores. E quando racionalizamos o Amor não o destruímos. Amor prova ser amor nas dificuldades, mas achamos ( na maioria das vezes )  o contrário. Colocamos tanta expectativa no outro e na própria relação que qualquer vento se transforma num vendaval.
O desafio é reconhecer o amor mesmo em dias de silêncio,  quando não há pistas do que se passa dentro do outro, quando até respirar parece não provocar movimento.
Se acreditas no amor não te enganes: luta pelo amor que vale a luta, esforça-te  por reconhecê-lo. Não corras o risco de passar os teus dias a regar flores de plástico.
 
Desejo a todos um dia fantástico  ( com ou sem Valentim) .








O amor não se define, o amor vive-se.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

PABLO

                                           



        Não gosto de fado, não gosto de poesia. Vá lá, podem crucificar-me.
Pablo Neruda é poeta, sim eu sei, e deixo-vos um poema que encaro como um manifesto...



"Quem morre?

Morre lentamente
Quem não viaja.
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo...

Morre lentamente
Quem destrói o seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias o mesmo trajeto,
Quem não muda de marca,
Quem não se arrisca a vestir uma nova cor ou
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
Quem evita uma paixão e o seu remoinho de emoções,
Juntamente as que resgatam o brilho dos olhos
E os corações aos tropeções.

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz
Com o seu trabalho, ou o amor,
Quem não arrisca o certo por o incerto
Para ir atrás de um sonho,
Quem não permite, pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos."

VIVE!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

TIO

Era um homem de poucas palavras. Observador, dizia só o que era para dizer, mais nada. Falava estritamente o necessário, ninguém dava por ele.
E não se queixava. Não se queixou  mesmo quando ontem ao final do dia a morte  lhe bateu à porta... sem um "ai", discreto na morte como na vida.
Estou triste.  Sempre que a morte "aparece" invade-nos uma tristeza: a pena de quem morreu e a nossa pena - a de ficarmos sem a pessoa que se foi (egoísta este sentir). Para quem vai é o adormecer, o ir embora, o deixar-nos para sempre... para quem fica são as saudades no coração.
O tio foi para a Guiné aquando da guerra do Ultramar. Recordo-me da minha mãe vibrar quando tinha notícias do irmão. Um dia soube dos aerogramas (ninguém se deve lembrar), que eram papeis tipo o das cartas com marca de água e que se abriam género telegrama. Enviar um aerograma de guerra era uma forma de comunicar e uma certeza de que eram sempre recebidos. E a minha história com os aerogramas era que eu escrevia ao meu tio. E a minha mãe tinha mais notícias dele através de mim. Durante toda a guerra colonial foi assim que soubemos do tio. Quando voltou estava ainda mais metido consigo. Lá se casou com a Maria que é o oposto:gargalhada fácil, simpática e comunicativa... enche uma casa. E tenho dois primos. E viveram todos felizes até que o tio começou a cansar-se muito. Coração! Maldito coração que nos trai e nos alimenta... órgão da contradição. Depois, nunca mais foi o mesmo. Cansado que não era vida (como chegou a comentar). Foi operado, colocaram-lhe um "pacemaker" e animou. Já ia dar uns passeios à tarde, ele e a Maria... Mas foi sol de pouca dura e o coração voltou a traí-lo perto do Natal. Ia para o hospital, voltava do hospital. Um dos dias em que lhe telefonei disse-me "gosto muito de ti". Estranhei tanto. O tio sente essas coisas mas não as diz. E disse-me. Foi a sua forma de se despedir.
Adeus tio, adeus e fique em paz.  
 
 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

APROVEITA




Um dia, assim do nada, o teu filho vai deixar de te chamar para te dar um beijo...
Um dia, assim do nada, o teu filho  vai fechar a porta da casa de banho...
Um dia, assim do nada, o teu filho vai aquecer o leite da manhã...
Um dia, assim do nada, o teu filho vai deixar de espalhar brinquedos pela casa...
Um dia, assim do nada, sem avisar, ele vai crescer...
Tu vais-te orgulhar do que fizeste e perceber que compensou, que valeu a pena.
Até lá, aproveita o cansaço por o mimares, aproveita a falta de espaço na cama com o teu filho no meio dos dois, aproveita enquanto todos cabem num só.
Apesar da falta de tempo e energia para namorar, aproveita a desobediência, o barulho, o cheiro, o tropeçar nos brinquedos...
Aproveita o trabalho, a preocupação, os "TPC"...
Aproveita o amar de perto, enquanto ele é pequeno e te cabe no colo...
Um dia, acordas e percebes que não te chamou para o beijo, que já não estende os braços na tua direção e que quer dormir sozinho..
Nessa altura o teu coração vai ficar apertado e vais chorar.
Os meus já não cabem no colo mas cabem eternamente no meu coração.
 
Dedico este texto à Tânia  (ela sabe o quão importante tem sido na minha vida).


 

 






 

 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

WHISPERS


Hoje é dia de emoções e de partilha...
Enviado pela minha prima e gostei tanto. Espero que gostem:

E agora?
Agora, digo-te que as pessoas são como ilhas e as suas consciências um território. Algumas metem água...afundam-se. Outras...
Espera...! Eu sei que isto são lugares comuns. Mas tu sabes... Eu sei que tu sabes que eu sei :) que o mundo precisa de mais do que isto, mas depois, só nos aceita, só nos dá colo, se formos um lugar comum... Queres ser entendida? Tens que ser um lugar comum.
Shiuuu, aprende a guardar -te das luas do mundo.
E escuta, eu também sei que tu sabes, que eu sei :) que a vida é a bagagem mais desarrumada e valiosa que temos e que o amor é um oxigénio de composição rara.
Ui, amar é existir no lado de dentro, é esventrar a banalidade. É ficar gigante. Amar é nascer muitas vezes sem sangue e sem dor. É encontrar. É devolver. É mergulhar. É ser.
Coisa rara. O amor, claro. E aqueles, tantos, que vivem uma vida inteira sem amar?  Mesmo.
Esses não sabem porque já não sonham que o principio de tudo é dentro de nós...Têm medo.
Ah, o medo. Eu conheço-o. Um dia olhei-o nos olhos. Sabes quanto tempo ele me enfrentou? Oito longos anos. A besta desafiou-me oito longos anos. E sabes como se foi embora? Deixei de o alimentar. Simplesmente não lhe servi a minha alma, nem os meus sonhos. E foi-se. Rápido. Veloz, inútil. Agora, sirvo-me em taças, é que o medo desorienta-se com a beleza e com a elegância.
Depois há a dor. Essa é tramada. Tu sabes...Eu também. Mas, fácil. Muito fácil lidar com ela.
Espera: não, nunca, jamais lhe ensines um caminho. Troca-lhe as voltas. A sacana tem cá uma memória. É do hábito. Como vive do passado... Por isso olha sempre em frente como se houvesse algures uma saída, uma solução...isso ela não entende. Não é o seu ADN.
Bem, tenho que ir. Esta falta de tempo...Desculpa.
Queria escrever-te uma carta. Queria que essa carta fosse especial. Bonita, fluente, mas o que queria mesmo é que as minhas palavras fossem como abraços . Que te sentisses abraçada. E sabes porquê? Porque te adoro.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

SALDOS

 


"Saldos"- palavra mágica para alguns, um horror para outros.
Eu adoro saldos. Não porque vou comprar o casaco de 500 euros por 300 mas porque compro montes de camisolas por 5 euros que custavam 25. A  minha visão dos saldos é muito à medida do meu bolso.  Por exemplo: compro uma dúzia de "T shirts" para o meu filho a 2 euros e no verão estão prontas a estrear e até têm marca (só que são da coleção anterior).
Este ano fiquei "desiludida" com alguns saldos. Gosto de chafurdar naquele monte de roupa de algumas lojas, de encontrar aquela camisola de brilhantes que "pode ser que um dia a use" num  momento mais especial...A propósito: a Lena disse "comprei um vestido de lantejoulas". Conhecendo a Lena, super discreta, low profile, se não derem por ela, ela também não se mostra, a comprar um vestido  de lanjejoulas?? Quando comentou entre nós, olhamos todas na sua direção com aquela cara de admiração... E quase em uníssono perguntamos : TU???
A Lena sorriu e respondeu: - Opah! era barato, custou só 15 euros, é o que se gasta num lanche - justificou - e pode ser preciso para uma festa qualquer...e não é colante (e fez um gesto com o corpo), é assim "tipo largo".
Eu entendo-a, estou ansiosa para que ela o vista e fique uauuu!
E é isso, VIVA os SALDOS, VIVA estes momentos de futilidades de "gajas"!!!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

MADALENA


Outro dia, a Graça virou-se para mim e disse: "ainda para mais ela não é minimamente interessante..."
E com razão: há pessoas bonitas e feias e assim-assim. É preferível ser assim-assim e interessante do que bonita e nada interessante. Interessante é uma palavra tão GRANDE...
Antes da Madalena nascer eu era assim: nada interessante, insegura...uma pateta.
A Madalena é o SER enorme que fez de mim MULHER.
A ansia do primeiro filho, a expectativa de ser mãe, o amor que cresce ao longo de nove meses para culminar no medo, no desconhecido, no buraco negro. A projeção do bebé perfeito, saudável, desfez-se nas primeiras horas de um quente dia de julho. Quando a Madalena nasceu Deus estava a dormir a sesta (costumo dizer). Quando acordou, remediou o suficiente para a tornar na pessoa mais bonita que jamais conheci.
A minha filha sofreu  uma grave anóxia durante o parto por negligencia médica. Durante meses fugi do diagnóstico que não queria ouvir. Mas aos 8 meses, num dia feio, disseram-me com a frieza com que vou escrever:"prepare-se pois a sua filha vai ser um vegetal". Chorei, chorei, gritei, esperneei. Chorei de raiva, de desalento, de pena de mim... No dia seguinte arregacei as mangas e decidi contrariar os "senhores doutores". A luta, o percurso tem sido grande e muitas vezes difícil. Mas, cada segundo vale a pena: o gatinhar, os primeiros passos, a entrada na escola, os amigos, as borbulhas...
O dia mais feliz da minha vida foi quando ela terminou o 12ºano!
A Madalena dá-nos lições de vida, a Madalena é carregada de magia, a Madalena é um ser único e precioso a quem eu terei eternamente de dizer OBRIGADA!





sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

SHE

Hoje não me apetece escrever, mas apetece-me partilhar convosco esta "não vontade".
Depois da intensidade dos últimos dois dias, só quero sair deste filme e ir-me divertir. E, nestes dias, tenho pensado muito na L. A L é a irmã que eu não tive, uma das amigas que mais admiro e com quem me apetece estar.
A L é doce, sensível, apaziguadora. Conheci-a há quase 20 anos. Eramos umas "crianças". Entre nós cresceu uma cumplicidade que perdura. Outro dia a L zangou-se comigo mas eu no papel "da mais velha", também lhe disse umas verdades. Ao outro dia choramos no ombro uma da outra. Tem-me apetecido estar com ela mas, muitas vezes, não consigo: ela tem a vida dela e eu a minha, separadas pelo rio Tejo e com profissões que não se compatibilizam. Almoçamos de 15 em 15 dias e não conseguimos conversar tudo. Normalmente nesse dia, à noite, liga-me para continuarmos a conversa do almoço.
 Dizem que  os amigos têm uma grande diversidade e escolhemo-los por várias razões. A L tem uma particularidade: todos os meus amigos que a conhecem tornam-se seus amigos. Imaginem o que é ter alguém assim!!
She só nós entendemos, ou não ? - ( dois toques na hiperligação )
Saudades tuas!
 
 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

"LÍDER"

Todos nós temos sonhos...
Uns são concretizáveis, os outros não passam de "sonhos".
Quando tinha 30 anos organizei a minha vida mentalmente: matar-me a trabalhar, ser mãe e conquistar um lugar ao sol.
A realidade é que me mato a trabalhar, sou mãe mas o lugar ao sol, nem visto. Os 50 seriam o momento de fazer aquilo que queria. Ter algum conforto monetário, ir de férias, jantar fora sempre que me apetecesse. M E N T I R A !! já com 50 e tal e sem "esses" vícios!!!
Vivemos mais tempo mas vivemos com pressa e rodeadas de conflitos: pessoas que nos invejam, maus líderes no trabalho, mais tarefas domésticas e filhos a crescer.
Hoje sinto-me um limão: amarga por dentro e amarela por fora. Estou desiludida pois ainda acredito num Mundo cor de rosa e este Mundo é muito filho da mãe. As pessoas aborrecem-se por tudo e por nada. Conheço pessoas a quem o poder lhes sobe à cabeça (parece que o poder sobe à cabeça dos pouco humildes) e, só por terem um "título" antes do nome acham-se Deus... e o título é uma bosta, nem sequer é Sua Alteza Real. O poder é afrodisíaco... incham cada vez que falam connosco. Mas ainda há pessoas que, mesmo com um "título", falam de igual para igual: são os verdadeiros líderes, que agregam à sua volta um bom grupo, uma boa equipa. Depois há os outros, iguais a tantos, que escondem no autoritarismo a sua fraqueza. 
Parece que já estou melhor, já passei a laranja  (menos azeda e menos amarela).
Que bem que me soube falar convosco :)
 
 
 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

RECREIO


Uma das grandes verdades universais é, sem dúvida, que o melhor do mundo são as crianças.
Fui, durante quase 20  anos educadora de infância, acho que conheço bem as crianças e a sua fantástica sabedoria. Elas são uns verdadeiros barómetros de emoções.
Mas ia aqui falar sobre os recreios... Ontem fui buscar a filha de uma amiga à escola. Identifiquei-me, disse quem ia buscar e ouço: “Onde anda o 3ºE?" e a resposta do outro lado: "são os que estão de castigo"… Dirigi-me ao recreio procurei a Leonor e lá estava ela e mais 20, sentados  no chão de pernas à chinês, num canto do recreio, com ar triste,  a ver os outros brincar…Nem perguntei à Leonor a razão de tão vil castigo pois NADA justifica o mesmo.
Os miúdos gostam da escola? Quando perguntarem ao vosso filho, neto ou sobrinho do que gostou mais na escola, em 90% dos casos ele vai-lhe responder: “do recreio”. Não será o recreio o mais importante do dia ? No recreio relaxam, interagem livremente com os amigos… além de fazerem o mais importante: brincar.
É frequente encontrarmos crianças que não sabem iniciar ou manter brincadeiras: isso acontece  porque cresceram sem brincar.
Partimos do princípio de que as crianças sabem brincar, mas as habilidades para tornar uma brincadeira possível não são capacidades inatas, mas apreendidas e treinadas através das vivências nos recreios. São nestes contextos que aprendem a fazer novas amizades, a resolver conflitos rapidamente, a criar alternativas criativas para manter a brincadeira, a saber escolher equipas, amigos e a respeitar as regras do jogo.
As escolas portuguesas não têm o recreio organizado, nem planeado e muitas vezes  é mal vigiado.
Procurei numa revista de educação Americana algo sobre os benefícios de brincar e enumero alguns:
1- funciona como uma válvula de escape, gerando bem-estar emocional;
2- a exposição ao ar livre e ao sol estimula a glândula pineal, o que ajuda na sensação de bem-estar;

3- pequenos períodos de explosão de energia ao brincar contribuem para um estilo de vida mais saudável;
4 - para muitas crianças o recreio é o único momento do dia para socializar com outras crianças…
Por tudo isso, recreio é tempo de desenvolvimento e de vida.
As experiências vividas no recreio marcam profundamente o desenvolvimento de uma criança e desenham o futuro de sua vida adulta.
Punir com  “não vais ao recreio”, faz sentido ?